Ouvidos de escutar e o desempenho escolar
- Margareth Felicio Garcia
- 20 de mai. de 2019
- 3 min de leitura

Se você acha que seu filho(a) está muito distraído(a), não presta atenção nas aulas, nem no que os outros dizem, anda muito agitado, inquieto, com dificuldade de aprendizagem e em ler e escrever, é preciso redobrar as atenções.
Muitas vezes, essas atitudes são encaradas como fase ou até mesmo com a personalidade hiperativa da criança, mas cuidado ele(a) pode estar com Distúrbio do Processamento Auditivo Central (DPAC) conhecido também por Transtorno do Processamento Auditivo Central.

Para esclarecer algumas dúvidas sobre o distúrbio/transtorno, conversamos com a Fonoaudióloga Dra. Ana Paula Doi Bautzer.
Para assimilarmos o que é o DPAC temos que entender, primeiramente, o que é o Processamento Auditivo Central e a Dra. Ana Paula explica: “é o responsável no Sistema Nervoso pela distribuição e processamento das informações recebidas auditivamente, por exemplo, quem não tem o distúrbio consegue filtrar de todos os sons ouvidos em um ambiente, apenas o que ele precisa para responder e prestar atenção”.
O DPAC por sua vez é: “uma alteração e dificuldade na interpretação e processamento das informações captadas pelas vias auditivas. Ou seja, ela ouve muito bem, mas não consegue interpretar a mensagem recebida”, esclarece.


Isso significa que quem tem o Distúrbio vive numa confusão de sons. O cérebro se esforça tanto para compreender o mundo ao seu redor, que se cansa rapidamente. Atividades simples tornam-se muito complicadas em decorrência da dificuldade de prestar atenção nos sons que realmente interessam, levando a pessoa a se desligar e se distrair facilmente.
Este distúrbio/transtorno pode afetar pessoas de diversas faixas etárias, embora seja mais evidente em crianças, principalmente, na idade escolar, durante e após a alfabetização. “Não se sabe ao certo o principal motivo do DPAC, mas muitos estudos desenvolvidos sugerem as principais causas associações com infecções no ouvido, alterações neurológicas, doenças degenerativas, lesões nos canais auditivos, nascimento prematuro, alterações ou influências genéticas, falta de desenvolvimento auditivo devido ao baixo estímulo durante a infância e até alergias. O que se sabe é que o desenvolvimento auditivo e estruturas cerebrais que interpretam, processam e hierarquizam os sons se desenvolvem até 13 anos de idade”, afirma Dra. Ana Paula.

É fundamental que o diagnóstico seja detectado o quanto antes. “A cura, ou seja, o tratamento vai depender muito do tipo do Distúrbio e da idade do paciente. Quanto antes se iniciar melhor para a criança. Geralmente se o tratamento for realizado com um profissional habilitado as alterações encontradas tem grandes chances de serem revertidas”, ressalta.
E conclui “Existem diversas intervenções que podem melhorar a capacidade para se comunicar. A alteração auditiva e dificuldade detectada é específica de cada um. Muitas vezes, o cuidado envolve intervenções na escola, em casa e com todos que convivem com o paciente. As terapias passam por diversas tarefas em que o fonoaudiólogo tem como objetivo treinar o cérebro para a análise do som aplicado, além de mudanças na escola e comportamento em casa”.

Dra. Ana Paula alerta ainda quando é preciso solicitar o exame “Toda vez que suspeitar de um Transtorno Auditivo Central e o médico Otorrinolaringologista ou Pediatra desconfiarem de alteração”. Para isso, seguem alguns sinais e dicas que sugerem que pode existir um transtorno:
- Desatenção e/ou distração;
- Não suporta assistir aulas ou palestras, e refere muito cansaço;
- Agitação ou inquietação em momentos que deve e entende que necessita ficar parado;
- Dificuldade de aprendizagem e/ou para ler e escrever;
- Alteração na fala, leitura ou escrita,
- Dificuldade de memorizar;
- Dificuldade em localizar a fonte sonora;
- Dificuldade em repetir uma sequencia de tarefas solicitadas;
- Em ambientes com barulho não consegue ouvir e prestar atenção;
- Muitas vezes pede para repetir o que lhe foi falado ou sempre diz que não entende;
- Responde de uma forma demorada ou demora para compreender o que foi pedido ou dito;
- Não mantém conversas com muitas pessoas ao mesmo tempo.

Com o tratamento fonoaudiológico e o apoio de uma equipe pedagógica adequada desde cedo, a criança terá muito mais chances de um ótimo desempenho escolar, pois seu cérebro estará sendo treinado a compensar as falhas neurológicas das vias auditivas centrais. (fonte: www.adap.org.br).

Mestre e Doutora em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo. Fonoaudióloga da Clinica de Especialidades Integrada (CEI).
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